filhos do mesmo todo


Neófitos da vida - Filhos do mesmo Todo
:: Wagner Borges ::

O que tem de gente acendendo vela para o santo e ao mesmo tempo fulminando os adversários com pensamentos daninhos é uma enormidade.


A ignorância das realidades da vida espiritual torna as pessoas ridículas em suas práticas espirituais.
Muitos querem desenvolver fenômenos incríveis, mas são medrosos e têm medo do que supostamente gostariam de ver.
Querem ver o Além, mas têm medo de olhar para si próprios e verificar a quantidade de coisas ruins que moureja em seu íntimo.
Quando alguém lhes fala de valores elevados, irritam-se facilmente. Preferem a superficialidade tão comum aos que trafegam nas vias espirituais cheios de leviandade.
O que os move no caminho espiritual são seus desejos egoístas e a ânsia por poderes psíquicos. Não querem crescer, querem poderes.
Não almejam o amor e nem a claridade de quem galga os degraus de luz com atitudes dignas no seio do mundo comum.
Querem ser iniciados nos arcanos espirituais, mas seus pensamentos são vulgares e suas emoções são mais mundanas do que os que nada sabem desses assuntos. São mais profanos do que os profanos comuns, pois têm o acesso ao conhecimento que liberta, mas portam-se equivocadamente em relação aos objetivos de suas buscas espirituais. São profanos de luxo!
Exigem técnicas especiais para o desenvolvimento dos poderes psíquicos, mas não portam a paciência necessária para a colheita dos resultados.
Não têm disciplina para perseverar e estão sempre em busca de alguma fórmula espiritual milagrosa que lhes abra as percepções ou de algum exercício infalível.
Raramente ponderam sobre as responsabilidades inerentes a esses estudos e práticas.
Quanto maior o conhecimento, maior a responsabilidade.
Carregam duas bolsas em suas atividades (humanas e astrais): uma na mente e a outra no coração.
A bolsa mental está repleta de condicionamentos e arrogância.
A bolsa do coração está lotada de mágoas e egoísmo.
Muitas vezes, os espíritos infelizes os assediam cutucando justamente essas bolsas. Costumam agarrar-se a elas e acompanham essas pessoas, aonde elas vão.
Não precisa abrir a clarividência para ver esses espíritos e nem sair do corpo para encontrá-los. Basta olhar dentro das bolsas!
O encontro consigo mesmo é amargo e doce. Todo iniciado nos arcanos espirituais sabe disso na prática, pois já chorou muito pisando os vários espinhos psíquicos espalhados pelas pistas de sua própria alma. Trilhou becos obscuros e trilhas perigosas em si mesmo, onde sua única lanterna era seu discernimento e seu amor pela luz.
Munido de grande respeito pelos objetivos colimados e sempre caminhando com modéstia e responsabilidade, encontrou a GRANDE LUZ em si mesmo. Permitiu-se ser possuído por um amor transbordante. O véu de Ísis foi erguido no templo de sua alma e o manto da ilusão dissolveu-se.
No profundo amargor de suas provas, ele percebeu a doce presença do INEFÁVEL guiando seus passos.
Em silêncio, ele curvou a cabeça e prometeu servir aos ditames da LUZ e lutar tenazmente contra a ignorância.
Prometeu servir a humanidade da forma que lhe for possível e ser canal da ESPIRITUALIDADE a favor do progresso de todos os seres.
Seu grau iniciático está presente em suas atitudes diárias: é incapaz de fazer o mal a alguém.
Seu trabalho é preciso: sabe por onde anda e como executar sua tarefa no mundo.
Seu mestre é o AMOR.
Sua ordem é a do BEM.
Seu arcano é simples: trabalhar na LUZ.
Os buscadores levianos querem os poderes, não o trabalho. O iniciado quer o trabalho, não o ego.
Na óbvia diferença entre os objetivos dos dois fica evidenciada a qualidade da viagem espiritual de cada um.
No cadinho da experiência, a vida fará ocorrer a grande alquimia: transformará, pelas vias das experiências diárias e comuns, os corações de ferro em corações dourados de ouro espiritual, peneirado nas areias iniciáticas da própria alma.
Para os levianos de plantão, um recado: a ânsia pelos poderes parapsíquicos talvez revele reminiscências inconscientes de antigas experiências com magia trevosa em vidas passadas. Nesse caso, a natureza bloqueou, na vida atual, alguns desses potenciais, como forma de proteger esses incautos que geraram péssimas causas no passado.
Só há uma forma de lidar com isso e desbloquear esses potenciais: usá-los com a nítida finalidade de amadurecimento e como expressão da alma que labuta pela melhoria de todos os seres. Fazer o BEM sem olhar a quem e munir-se de muita paciência na jornada da vida. Transformar o trevoso de ontem no radiante de hoje.
E, acima de tudo, esvaziar as bolsas da mente e do coração e colocar, no seu lugar, o discernimento e a fraternidade em ação.
Ninguém é perfeito e a trilha ascensional é íngreme. Mas, o esforço vale a pena!
O prêmio não é nenhum poder ou mestrado espiritual. É apenas um estado de alegria íntima independente de circunstâncias exteriores.
É aquele brilho nos olhos de quem trabalha dignamente.
É aquela LUZ no coração que nada pode apagar.
É um agradecimento contínuo ao INEFÁVEL que lhe permitiu ascensionar, mesmo em meio a tantas encrencas diárias.
É aquela sensação de imortalidade enchendo sua consciência de confiança e esperança no melhor para todos.
Aos iniciados de plantão, um recado: quanto mais profundo o grau iniciático, mais forte será a sensação de que se é um eterno neófito*(calouro,iniciante,aprendiz) da vida e do GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO.

PAZ E LUZ.

Wagner Borges é pesquisador,
conferencista e instrutor de cursos de Projeciologia

a vida e igual uma viagem de trem

a vida e igual uma viagem de trem!!

cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, agradáveis surpresas em muitos embarques e grandes tristezas em alguns desembarques.




Quando nascemos, entramos nesse magnífico trem e nos deparamos com algumas pessoas, que julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco.






Infelizmente isso não é verdade, em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos do seu carinho, amizade e companhia insubstituível. Isso porém não nos impedirá que durante o percurso, pessoas que se tornarão muito especiais para nós, embarquem. Chegam nossos irmãos, amigos, filhos e amores inesquecí


Muitas pessoas embarcarão nesse trem apenas a passeio, outras encontrarão no seu trajeto somente tristezas e ainda outras circularão por ele prontos a ajudar quem precise.
Vários dos viajantes quando desembarcam deixam saudades eternas, outros tantos quando desocupam seu assento, ninguém nem sequer percebe.




Curioso é constatar que alguns passageiros que se tornam tão caros para nós, acomodam-se em vagões diferentes dos nossos, portanto somos obrigados a fazer esse trajeto separados deles, o que não nos impede é claro que possamos ir ao seu encontro. No entanto, infelizmente, jamais poderemos sentar ao seu lado, pois já haverá alguém ocupando aquele assento


Não importa, é assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas, porém, jamais, retornos. Façamos essa viagem então, da melhor maneira possível, tentando nos relacionar bem com os outros passageiros, procurando em cada um deles o que tiverem de melhor, lembrando sempre que em algum momento eles poderão fraquejar e precisaremos entender, porque provavelmente também fraquejaremos e com certeza haverá alguém que nos acudirá com seu carinho e sua atenção.


O grande mistério afinal é que nunca saberemos em qual parada desceremos, muito menos nossos companheiros de viagem, nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado. Eu fico pensando se quando descer desse trem sentirei saudades. Acredito que sim, me separar de muitas amizades que fiz será no mínimo doloroso, deixar meus filhos continuarem a viagem sozinhos será muito triste com certeza... mas me agarro na esperança que em algum momento
estarei na estação principal e com grande emoção os verei chegar.




Estarão provavelmente com uma bagagem que não possuíam quando embarcaram e o que me deixará mais feliz será ter a certeza que de alguma forma eu fui um grande colaborador para que ela tenha crescido e se tornado valiosa.
Amigos, façamos com que a nossa estada nesse trem seja tranqüila, que tenha valido a pena e que quando chegar a hora de desembarcarmos o nosso lugar vazio traga saudades e boas recordações para aqueles que prosseguirem a viagem.

somos todos mestres e aprendizes



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somos todos mestres e aprendizes

:: Conceição Trucom ::
e
O riso é a menor distância entre duas pessoas - Eugene Ionesco

Todos os grandes gênios que a humanidade já produziu concluíram, cedo ou tarde, que nosso vasto mundo é um playground onde, de todas as moedas de troca, a mais importante é o bom humor. Seja ensinando e/ou aprendendo, "brincar" é, sem dúvida, a melhor forma de perceber, amar e viver a vida.

No ato do brincar e rir verdadeiros, acionamos/oxigenamos nossa inteligência afetiva e emocional, ou seja, abre-se um fluxo de energia circulante para o 'sentir' e 'perceber' as pessoas que nos cercam e o invisível. Isso explica porque quando bem humorados, ficamos mais inspirados e inteligentes, e transcrevo aqui uma frase genial do pensador Guy Claxton: O riso é uma condição necessária para o pensar, porque a inteligência aumenta quando você pensa menos. Hehe!

Somos animais curiosos e só podemos sobreviver m nosso mundo se tivermos formas de satisfazer nossa curiosidade
e aliviar todas as tensões inerentes aos desafios, inclusive, de aprendizado e amadurecimento, da vida.

Os animais humanos fazem isso através da brincadeira autêntica, embora nossa sociedade não valorize, infelizmente, a verdadeira brincadeira para os adultos. E aí começa nosso desafio maior, pois pais e professores são adultos, que precisam ensinar a vida às suas crianças. Como será esta troca? Quem será o mestre? Quem será o aprendiz?

O perigo: somos educados para a luta e competição. Crianças têm direito à infância? Adultos têm direito de brincar e aprender com suas crianças?

Mas, enquanto o padrão social é a luta, ficamos impacientes, tomamos atalhos (mundo da ilusão) e depois, surpresos, o desempenho e aprendizado caem, a frustração surge, e o mental racional/lógico nos confirma: somos mesmo incompetentes (notas baixas) e infelizes (mesmo que a nota seja alta) porque solitários.

O psicólogo Arthur Koestler acredita que a curiosidade, ou impulso exploratório, é um imperativo fundamental do comportamento humano, como a fome ou a sede. Ele cita amplas evidências do mundo animal como, por exemplo, os macacos que brincam com um desafio e o solucionam sem a oferta de uma recompensa. E, o que é mais importante, o desempenho melhora quando não estão brigando por uma recompensa, mas brincam solucionando o desafio no espírito da "arte pela arte".

Quando há briga NÃO HÁ UMA BRINCADEIRA AUTÊNTICA e os animais "ficam impacientes e tentam resolver as coisas rapidamente", o que faz claramente o desempenho piorar. Você já viu este filme?

O ato de ensinar e aprender é pura criatividade, alegria, arte pela arte, ao mesmo tempo uma questão de sobrevivência (no sentido da significância), jamais de competição.

A curtição verdadeira é nosso elo com o tipo de pensamento que nos permite ver a vida como um processo de constante redefinição, ressignificação. O bom humor e o riso, que pode partir do professor (pais) e contagiar alunos (filhos) ou partir do aluno (filho) e contagiar o mestre, pode ser um sinal de que estamos aprendendo novos padrões, de que captamos uma nova maneira de perceber algo. Uma aproximação via afetividade.

Mantenho minha posição de que só porque algo é importante, ou sou o líder da hora, não preciso ser séria. Buda foi o primeiro a ligar riso à alma, inspiração e criatividade. Ou seja, todos podemos ser pessoas animadas, inspiradas e viver uma vida criativa.

Quando permitimos que o bom humor e o riso se manifestem, façam parte do nosso cotidiano, abrimos uma pista de acesso para que padrões rígidos sejam transformados, e será por esta mesma pista que iremos acessar a forma mais fundamental de crescimento: nossa habilidade de aprender, registrar e responder flexivelmente e afetivamente às exigências da vida.

A perda do meio ambiente adequado para se brincar e, como conseqüência, da própria capacidade de brincar, produz muitos efeitos negativos na vida das pessoas: crianças e adultos. Nos últimos tempos, cientistas de várias áreas dedicam-se a investigar a filosofia e a psicologia do ato de brincar: o que acontece com o corpo, cérebro e comportamento de uma pessoa quando se diverte, faz travessuras, ri e desfruta a vida?

Desde o início, os resultados surpreendem: é justamente quando se brinca que as células cerebrais formam mais e mais conexões (sinapses), criando uma rede densa de ligações entre neurônios que passam sinais eletroquímicos de uma célula para outra. Ou seja, o ato de brincar e rir estimula e exercita as diferentes funções cerebrais. Sinapses brotam em grande número especialmente durante o momento de descontração e bom humor. E um fluxo interessante acontece: o que está acumulado na mente desce para as demais partes do corpo. Mente e corpo se aliviam de suas tensões, permitindo que ambos tenham mais percepções e prazer.

Finalizo este texto pedindo uma reflexão para o modelo de relação e posicionamento entre mestres e aprendizes. Quem é mestre? Quem é aprendiz a cada minuto de nossas vidas? Ou melhor, o que você quer ser? Mestre? Aprendiz? Ou os dois ao mesmo tempo?

Quando funcionamos sem bom humor, riso e criatividade, perdemos a capacidade da afetividade e do aprender, portanto, de ensinar. Quando afirmamos que somos autoridade porque temos mais idade ou papéis a cumprir, é sinal claro de que ficamos presos no mundo da ilusão e colocamos nossas crianças no mundo da solidão e impotência: onde estão meus mestres e referenciais? Com quem vou exercitar minha forma natural de aprender?

O modelo de uma vida comum bem-sucedida, que inclui decisões e compromissos precoces, com um preparo educacional que não aciona a espontaneidade, o aprender criativo, mas sim a luta e a competitividade, irá gerar que alegria e realização nas carreiras, casamentos e relacionamentos das nossas crianças?

Que mestre ou pais se sentem realizados e significantes se não existe alegria, prazer, afeto e calor nas relações com suas crianças?

Vamos mudar? Vamos curtir e aprender e... daí poder ensinar?

Bateson define a sabedoria como tendo muitos ingredientes, mas um dos essenciais é "nos tornarmos conscientes de quantas vezes teremos de mudar de idéia".
Conceição Trucom é química, cientista, palestrante e escritora sobre temas
voltados para o bem-estar e qualidade de vida.