Mandioca era segredo do sucesso dos maias

Pesquisadores acham mais antiga prova de domesticação da raiz em sítio de El Salvador.

Tubérculo de 1.400 anos teria permitido alimentar massas do império.John Noble WilfordDo 'New York Times'

Uma das perguntas mais difíceis de responder sobre o auge da civilização maia, no primeiro milênio da Era Cristã, é como os maias conseguiram alimentar tanta gente. Com uma densidade populacional tão grande, muitos arqueólogos achavam que só plantações de mandioca em larga escala estariam à altura da tarefa. A idéia acaba de ter sua primeira confirmação: pesquisadores americanos acharam os restos de uma lavoura de mandioca de 1.400 anos, a mais antiga evidência da domesticação da planta nas Américas.

Os arqueólogos da Universidade do Colorado acharam resquícios do tubérculo em Cerén, um sítio arqueológico a cerca de 40 km da capital de El Salvador, na América Central. Cerén às vezes é chamada de Pompéia do Novo Mundo, porque a erupção de um vulcão próximo por volta do ano 600 enterrou os prédios e artefatos da cidade maia numa camada profunda de cinzas.

 "Esse sítio foi como ganhar na loteria", diz Payson D. Sheets, professor de antropologia da Universidade do Colorado. "A extraordinária produtividade da mandioca pode ajudar a explicar como as enormes cidades clássicas maias, como Tikal, na Guatemala, e Copán, em Honduras, conseguiam abrigar populações tão densas."

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Antiga área de uma casa escavada no sítio de 1.400 anos (Foto: Jim Scott/Universidade de Colorado)
As escavações anteriores em Cerén tinham revelado um único pé de mandioca, que foi achado numa horta perto de uma cozinha. Sheets diz que isso levou todo mundo a acreditar que a mandioca deveria ter tido um papel menor na dieta maia. "Como estávamos errados", lamenta ele. Uma antologia sobre a agricultura maia publicada em 1996 fazia apenas uma referência à mandioca, dizendo que "o papel dos tubérculos na dieta maia é desconhecido".

A equipe de Sheets usou radar, brocas e escavações de sondagem para encontrar as fileiras bem-ordenadas das plantações de mandioca a cerca de 3 m de profundidade. Buracos deixados pelo material vegetal em decomposição foram usados como molde, usando o mesmo tipo de gesso que faz modelos dentários. Isso permitiu preservar sua forma e identificá-los como ocupados por tubérculos de mandioca. Agora, os cientistas querem encontrar indícios do plantio em outras cidades maias.