A RAÇA HUMANA- POSTED BY HIGHERTHANEAGLE




Dorso Branco olhava as terras quentes que se estendiam para além do horizonte. Ele estava de estômago cheio, acabara de terminar sua refeição, rica em brotos e frutas da grande árvore vermelha. Dorso Branco era jovem e cheio de vida, todavia nas últimas luas tinha tido sentimentos e pensamentos estranhos, de difícil compreensão. Bem, Dorso Branco sabia que ele pensava, descobrira havia dias que a voz em sua cabeça poderia ser a dele mesmo, embora nada claro saísse de ambas, da natural e da mente.

Ele estava voltando para junto de seus irmãos, todos já em idade de arrumar uma fêmea, o que significava estarem preparados para lutar, pois fêmeas não estavam sempre disponíveis. Ah, fêmeas... Dorso Branco se encantava por Lua Triste. Seu jeito de colher frutos das árvores anãs, o modo como brincava e abraçava os filhotes da tribo, acariciando atrás de suas nucas, a maneira terna com que lhe mandava olhares. Dorso Branco não entendia tal sentimento e nem entendia por que Lua Triste sempre vinha à sua mente. O pouco que entendia, mesmo sendo o mais arguto da tribo, era que Lua Triste era um pouco mais nova que ele, portanto era uma fêmea disponível.

Aproximando-se de seu canto na caverna, percebeu que havia um murmurinho entre seus irmãos. Ele logo entendeu que o assunto poderia ser a respeito de Lua Triste e sua idade para acasalar, percebendo todavia se tratar de algo bem diferente. Assim como todos da tribo, Dorso Branco lutava para se expressar e entender o que os outros tentavam dizer. O que ele pôde entender causou estranheza para ele. Diziam seus irmãos que as luzes do grande mar negro de cima estavam se movendo durante as últimas noites. Dorso Branco ouvia com atenção, tentando com sua mente acabrunhada, imaginar como as luzes do céu estavam se movendo.

Velho Grande interveio dizendo que seu pai, Trovão da Terra, havia lhe contado sobre esses brilhos quando ele ainda era filhote. Dizia que as luzes se moviam e que caiam na terra,  subindo novamente depois de algum tempo. Também disse que perto do local da queda, havia sujeira provocada por restos de rocha dourada. Velho Grande era esperto e tinha muita vivência para que Dorso Branco duvidasse de suas falas. Mas seria possível que o grande mar negro de cima, ou céu, como os mais jovens chamavam, estava perdendo suas luzes? E se a grande lua também caísse? Como o mundo todo poderia enxergar de noite?

Dorso Branco, apesar de arguto, sentiu-se cansado com tantos pensamentos e decidiu dormir, pensando em Lua Triste e em como seu cheiro o encantava.

No Céu

O príncipe de olhos vorazes observava com atenção o mapeamento holográfico do novo planeta, que seus homens chamavam de Tiamat. Ele, por ser da alta hierarquia, sabia que o nome correto era Urântia, como os espíritos ancestrais chamavam aquele terceiro planeta que rodeava a pequena e acanhada estrela local. Mas os nomes não importavam, ele mesmo era conhecido por muitos nomes em diversas galáxias e culturas. Estavam há muito tempo já naquele novo planeta, e o príncipe de olhos vorazes começava a questionar por que um lugar como aquele, abundante em tantos metais raros, era tão isolado do resto da galáxia.

- Veja, meu senhor – dizia a voz feminina ao seu lado -, como pode uma espécie tão subdesenvolvida ter a honra de habitar um mundo tão precioso? Veja estes primatas atrasados, ainda morando em buracos na pedra! - ela apontava para uma tela que mostrava imagens de um mamífero bípede e de certo desenvolvimento e inteligência.- Ah, o que eu não faria com eles! Seria divertido brincar com esta espécie.

- Suas quimeras não são bem-vindas agora, Ninhursag. Já temos problemas demais em nossas mãos com meu pai e irmão conspirando para minha derrubada.

- Ah, o Supremo e o seu favorito. A tola família sempre em conflito.

- Meça suas palavras, mulher! A apreciação de meu pai por seus dotes físicos não o impedirá de cortar a sua língua. Ou pensa que por ser minha esposa pode burlar o alto regimento?

- Tão lindo e tão bravo.

- Faça o seu trabalho – disse Enki, filho de Anu, O Supremo Rei.

Os Deuses

Dorso Branco acordou cedo e foi ao rio para banhar-se. Os outros mais jovens tiravam o sarro desta sua prática, que normalmente era feita apenas pelas jovens fêmeas, mas Dorso Branco gostava de água, não sabia explicar por quê.

A água estava fresca e apreciável naquela manhã. Ainda não tirava Lua Triste de sua cabeça, mesmo batendo forte nela para expulsar as imagens. Dorso Branco não gostava de admitir, mas Lua Triste era tão esperta quanto ele e sempre lhe passava a perna nas brincadeiras ou suposições sobre os segredos do mundo. Ele se lembrava em como Lua Triste havia descoberto antes dele que as luzes no céu eram seus antepassados quando já não mais exalavam vidas. Dorso Branco achava Lua Triste muito esperta.

Um estrondo surgiu ao longe, no horizonte e pareceu aproximar-se de onde Dorso Branco se encontrava. Era um barulho como aquele que acontecia depois da árvore de luz em dias de chuva. Porém, o estrondo era constante e estava ficando mais alto. Dorso Branco conseguiu perceber a direção do barulho e fixou seu olhar no céu atrás de um grupo de árvores baixas.

O que ele viu surgir quase que o fez afogar-se. Um pássaro brilhante e barulhento surgiu por detrás das árvores. Era tão grande, que Dorso Branco quase não conseguia ver o céu acima. O pássaro reluzia, como se refletisse a luz do sol e fazia aquele estrondo contínuo. Uma rajada de calor atingiu Dorso Branco, que logo imaginou que o pássaro soprasse fogo.

O pássaro passou por cima do rio e seguiu rumo ao sítio de sua tribo. Dorso Branco ficou estático por alguns instantes, tentando compreender o que tinha visto e tentando, pois era arguto, pensar claramente. Nada. Aquilo era muito difícil para ele.

De repente, Dorso Branco deu um salto ao ouvir a gritaria vinda de sua tribo. Eram barulhos diversos, alguns em desespero, outros em fúria. Pela primeira vez, Dorso Branco não tentou entender o que estava acontecendo, simplesmente nadou até a margem do rio, cobriu sua identidade de macho com as vestes feitas de pele de leopardo e saiu correndo em direção à tribo.

O que viu foi algo completamente surreal para sua mente. A tribo toda gritava e corria de um lado para o outro, sendo que os mais idosos e os filhotes volta e meia caiam. Mas o que realmente chamava a atenção de Dorso Branco era o porquê de estarem correndo. O pássaro branco estava lá, silencioso, planando alguns centímetros acima do chão, com uma língua saindo de sua barriga de onde duas figuras estranhas observavam os eventos. No chão, figuras parecidas com as duas, porém vestindo-se de maneira diferente, atacavam a tribo com o que parecia para Dorso Branco um machadinho que disparava vento de cor ou fogo.

O que espantou de fato era a aparência das figuras. Eram muito altas, não se parecendo em nada com Dorso Branco. No lugar de pêlos, sua pele tinha uma espécie de relevo tortuoso, como o de um lagarto da colina do sol que nasce; a cor era de difícil compreensão para Dorso Branco, uma mistura de cor de tronco de árvore com o de grama de planície; os olhos eram como o de leopardos, e isso Dorso Branco sim tinha certeza; a cabeça não tinha os pêlos longos como na família de Dorso Branco, era algo que se assemelhava, mas que não era pêlos; era confuso, muito confuso.

Deixando as perguntas de lado, Dorso Branco, arguto e também forte, correu em auxílio dos seus, ajudando os mais velhos e filhotes a se levantarem e fugirem. Porém, avistou Lua Triste em apuros, sendo envolvida por algo semelhante a cordas cruzadas, mas que não eram cordas. A mente de Dorso Branco doía, mas precisava agir e foi em auxílio à sua querida Lua Triste. Jogou-se contra a figura que a prendia, mas foi como ir de cara contra uma rocha, tamanha era a resistência daquele ser. Dorso Branco acabou também sendo envolvido por aquelas cordas entrelaçadas e foi levado à força para dentro da barriga do pássaro gigante, observando antes que quase todos os de sua tribo também haviam sido capturados. Dorso Branco chorou.

O Rei Supremo

Sentado em seu trono, Anu observava o filho discursar a respeito do irmão. Como todo o pai e rei, tinha a paciência para lidar com as contendas envolvendo a herança de poder. E de fato, entendia todos aqueles atritos entre irmãos como algo natural. Seu pai tivera a mesma paciência, quando ele, Anu, ainda era novo e sedento. Mas isso foi há milhares de anos. Agora a idade estava começando a querer pesar.

- Querido pai, sua paciência para com Enki me espanta – dizia Enlil, favorito ao trono. – Como pode, depois de tantos erros e bizarrices, ainda permitir que ele esteja à frente de qualquer pedaço de terra deste planeta imundo? Ora, ele e a esposa não deram nenhuma prova de competência. Tudo o que fazem é brincar de deuses, criando aberrações que a natureza expurgaria da maneira mais fétida. Não, sua indolência me espanta. Enki não deveria mais estar em Urântia. Deveria ser renegado desta família.

- Suas palavras é que me espantam, filho. Quer o controle deste mundo, mas o chama de imundo. Enki é seu irmão e tem os mesmos direitos que você. Responda-me como poderia eu dar mais apreço a um do que a outro? – o Rei Supremo sabia que não só podia, como fazia. Mas não era que não amasse Enki, apenas não via nele a fibra e a ambição para tornar-se o Supremo. Milhares de mundos para comandar necessitavam de algo mais do que simples vontade.

- Meu pai, perdoe-me se pareço contraditório, apenas tento expor as coisas como elas são. Os trabalhadores estão parados há muito tempo! Sem ninguém para extrair o ouro se faz inútil nossa presença aqui. Como pode confiar que Enki possa encontrar a solução para este problema? Deixe-me dobrá-los e farei com que voltem a minerar.

Anu sabia que Enlil faria tudo pelo poder e por isso não o deixava a sós, para impedir que sua impulsividade o fizesse cometer erros graves. Urântia, ou como seus homens chamavam, Tiamat, era um mundo selvagem e primitivo, desta maneira pela primeira vez em milênios, ele admitia a possibilidade de deixar Enlil sozinho. Quando Nibiru estivesse pronto, poderia deixar aquela parte da galáxia sob os cuidados de Enlil. Bem, era uma grande hipótese que o grande Anu estava considerando.

- Não, meu filho. Você é jovem e ainda não entende como nossa raça age. Somos Dracos e Dracos se mantêm firmes em suas decisões. Não nos dobramos diante de ninguém. Nossos trabalhadores são importantes e eles sabem disso. Desta maneira, eles podem se manter firmes em suas decisões, pois têm força suficiente para isso. Essa pretensa rebelião é baseada na lógica. Eles são quatro vezes mais numerosos que os soldados que dispomos aqui, e eles sabem que eu não tolero conflitos com a própria raça. Nós não matamos indivíduos de nossa própria raça. Nunca. Entenda isso, se quiser ser rei. Dracos não matam Dracos.

Dorso Branco e Lua Triste

Dorso Branco ficou preso num cercado estranho, feito de algo reluzente, parecido com a rocha dourada, só que esta era prateada. Apesar da confusão e do medo, ele estava feliz pois no cercado ao lado estava Lua Triste. Ambos se olhavam ocasionalmente e mesmo sem comunicação sonora conseguiam entender o que os olhares significavam: medo.

Aquelas criaturas estranhas e com a aparência agressiva iam sempre àquela sala e levavam um deles para dar um passeio. Nenhum jamais regressou.

Dorso Branco não sabia ao certo quantas luas haviam passado desde que estava preso. Mas ele era arguto e imaginava que o número de luas era grande, como os dedos de dez indivíduos de sua tribo. Eles eram alimentados sempre, sendo bem tratados. No começo eram oferecidas carnes, mas Dorso Branco e os outros não sabiam o que fazer com restos de animais mortos. Não tinha como cavar naquela caverna dentro do pássaro gigante. Logo, as estranhas criaturas trouxeram frutas e aí sim Dorso Branco e os outros se alimentaram com gosto.

Naquele dia, Dorso Branco parecia agitado, pois havia tido um sonho estranho, no qual ele não era mais ele, mais ainda era, porém não era, mas continuava sendo. Ele era arguto, mas não conseguia entender o sonho. Então, a porta se abriu e uma figura entrou. Dorso Branco sempre via aquela criatura. Ele tinha quase certeza de que era uma fêmea, pois tinha uma graça que outros não tinham, além de ter um fedor mais agradável. Do lado dela, como sempre, havia outras criaturas. As vestimentas eram de difícil compreensão, mas Dorso Branco conseguia distinguir a cor, era como o de rocha seca.

Da boca das criaturas saiam sons que Dorso Branco não conseguia compreender. Eram tantos e tão variados que os sons pareciam ser de outro mundo. Ele olhou para Lua Triste e viu que ela havia percebido algo. Claro, Lua Triste era mais esperta que ele. Mas o que será que tinha visto? Ele pensou, pensou, a cabeça começando a entrar em colapso e finalmente compreendeu: era a vez deles.

Abriram-se os cercados de ambos e tiraram-nos de lá. Dorso Branco e Lua Triste não lutaram para se libertar e tentar fugir, pois eram espertos e não queriam ser espetados pela luz que machuca, que já havia sido usada em outros que tentaram se soltar. Ambos apenas se deixaram levar. Lado a lado, se olhavam, com medo. Mas Dorso Branco também tentava transparecer calma, pois era um macho e era assim que os machos deveriam fazer.

Chegaram a uma sala estranha, com pequenas pedras altas e retas, do tamanho de um corpo; não se podia entender como aqueles galhos conseguiam sustentar as pedras, que aliás eram bem finas. Que ferramenta teria sido usada para deixá-las tão retas? Havia muitos objetos que Dorso Branco nunca tinha visto: pequenos tubos transparentes, círculos como aquelas pedras redondas que se encontrava no rio, também transparentes e aparentemente frágeis; coisas que pareciam afiadas feito as lanças e machadinhas da tribo, porém bem menores, algumas se entrelaçando; havia também coisas parecidas com cordas, porém bem finas e sem os fiapos aparecendo, sendo de cores variadas, muitas delas se estendendo por trás de objetos estranhos, cheio de pedrinhas que brilhavam. Havia também umas caixas quadradas de onde, para espanto de Dorso Branco, algumas imagens esquisitas saiam, fazendo barulhos, tipo zumbidos. Muita informação! Muita informação para a cabeça de Dorso Branco.

Dorso Branco e Lua Triste foram colocados em cima daquelas pedras finas e lisas, uma do lado da outra, tendo mãos, pés, pescoço e barriga amarrados. O medo tomou conta de Dorso Branco. Ele tentou olhar pelo canto do olho para o rosto de Lua Triste e não conseguiu, apenas via do pescoço para baixo. Em seguida sentiu uma picada forte na dobra do braço e sentiu algo sendo sugado para fora. Dorso Branco ficou apavorado e começou a se contorcer, mas as amarras eram tão fortes, que ele mal conseguia se mexer. Ouviu um grito, olhou para o lado e viu algo sendo tirado de Lua Triste. Foram deixados de lado por algum tempo.

Em seguida sentiu um toque frio sobre sua identidade de macho que fez seus pêlos se eriçarem. Logo após a sensação foi de pânico quando sentiu uma picada forte penetrando as nozes debaixo de sua identidade de macho. Ele ganiu de dor e medo, mas nada adiantou. Aquela agonia demorou alguns segundos, mas para Dorso Branco pareceu uma vida inteira. Foram deixados de lado novamente.

Ali, se sentindo terrivelmente deprimido, embora Dorso Branco não soubesse que aquilo era algo parecido com depressão, ele pensou se todos os outros passaram pela mesma experiência. Ficou mais triste ainda ao lembrar que nenhum jamais voltou para seus cercados estranhos. Será que ele também não iria mais voltar? Será que seria libertado ou morto? E Lua Triste?

Algum tempo depois, as criaturas voltaram a atenção para Lua Triste. Do lado da pedra fina e lisa onde Lua Triste estava deitada, uns braços estranhos, parecendo feitos de rocha prateada se ergueram na altura das pernas. Duas das criaturas desamarram os tornozelos de Lua Triste, ergueram e separaram suas pernas posicionando-as sobre os braços prateados, atando-as em seguida. E Lua Triste ficou lá, de pernas abertas expondo sua identidade de fêmea. Dorso Branco ficou nervoso com um pensamento que lhe veio a mente: como gostaria de ver a identidade de fêmea de Lua Triste! Logo em seguida ficou assustado, pois a criatura, que ele tinha certeza de que era uma fêmea daquela espécie, aproximou-se inclinando em direção da identidade de fêmea de Lua Triste. O que assustou Dorso Branco, era que a criatura segurava um objeto estranho, alongado e meio transparente e o introduziu em Lua Triste, que chorou.

Enquanto fazia aquilo, a criatura olhava para uma das pedras quadradas que mostravam imagens estranhas. Ela olhava e mexia a mão na identidade de Lua Triste. Isto durou alguns instantes até que a criatura pareceu dizer algo em um tom animado. Ela retirou o objeto de dentro de Lua Triste, levantou-se e os deixou novamente. Dorso Branco sentiu-se aliviado por aquilo ter terminado, mas sabia que Lua Triste não estaria se sentido bem. E chorou.

Acordou em seu cercado sem entender como não havia prestado atenção quando o sono o pegou. Ele sentia um cheiro estranho ainda presente em seu nariz. Olhou para o lado e não viu Lua Triste. Ficou desesperado, achando que ela havia sido morta. E começou a fazer muito barulho e bater no cercado com violência. Então, a porta se abriu.

Adeus, Dorso Branco

Ninhursag entrou no recinto e foi em direção à cela de Dorso Branco. Ela estava acompanhada por um soldado robusto. De frente para Dorso Branco, percebeu a ira em seus olhos e sentiu-se feliz por isso, já que além dos resultados terem dado certo, parecia que entendia o motivo. Aparentemente aquela raça de primatas tinha uma forte ligação extra-sensorial entre si. Algo de difícil compreensão mesmo para um Draco, que apesar de ser talvez a raça mais antiga que se tinha conhecimento, não tinha muita capacidade espiritual. Ora, Ninhursag, como parte da elite, tinha acesso a conhecimentos que 99% dos Dracos não tinham. Ela sabia que quando aquele universo havia sido criado, toda vez que um ser vivo surgisse, uma alma deveria para lá ser encaminhada. Mas aquela conexão que tinham seria relativo à raça ou às almas que nela encarnavam?

- Olá, meu amigo. Não fique tão nervoso. Você foi de grande valia para nossos experimentos, portanto sua vida miserável e atrasada será poupada. Uma nova raça logo estará formada e vocês, primatas inúteis, serão parte do passado.

Dorso Branco havia parado os ataques violentos contra a grade e olhava Ninhursag nos olhos. Ela sentiu algo parecido com calafrio. Aqueles olhos tinham mais vida do que deveriam. Que raça era aquela que poderia abrigar uma alma tão profunda? Ela já tinha a confirmação de que o trabalho tinha dado certo e que a nova criatura em pouco tempo estaria apta para o trabalho de mineração, porém após ver aqueles olhos, ela teve a sensação de que algo muito maior do que se poderia esperar havia sido criado, melhorado.

Dorso Branco, por sua vez, havia compreendido de alguma forma que seria liberto. Pôde ler nos olhos e trejeitos da criatura fêmea, que era tão alta que ele precisava olhar literalmente para cima. A criatura ao lado da fêmea abriu a cela e agarrou seu braço. Mas Dorso Branco não reagiu, apenas seguiu de bom grado.

Ele foi levado à uma sala alta, onde uma grande porta se abriu. Ele pôde notar que estavam muito perto do chão. A criatura robusta aproximou-se com ele até a porta e ele viu lá embaixo, de um ângulo incerto, o que parecia ser alguém de sua tribo deitado na relva. Dorso Branco ficou feliz, mas antes que sua felicidade pudesse fazer algum efeito em seu estado, a criatura o arremessou para fora do pássaro gigante. A queda foi um pouco violenta e Dorso Branco se chocou contra a relva. Olhou para cima e viu o buraco na barriga do pássaro gigante se fechar, logo depois este voou para longe.

Dorso Branco se ergueu, sentindo uma dor latejando do lado direito do corpo, próximo ao peito, uma dor que duraria por muito tempo e que acabaria levando-o à morte. Tossiu sangue. Ele pôde ver o indivíduo de sua tribo que vira deitado na relva, e aproximou-se, já notando que se tratava de Lua Triste. Correu feliz da vida para vê-la, já sabendo que poderia estar sentindo a mesma dor que ele, porém no seu coração achava que estava viva. Foi então que viu o sangue. Apavorou-se.

Lua Triste estava deitada de mal jeito, com a cabeça contorcida, havendo sangue saindo de sua boca, possivelmente fruto da queda. Dorso Branco era arguto, sempre fora, e soube ali de imediato que ela estava morta. Porém, o que lhe causou pesadelos pelo resto de seus dias foi o que viu em seguida. Havia uma quantidade enorme de sangue saindo da identidade de fêmea de Lua Triste, e ao dar uma olhada mais aguçada, percebeu que na barriga dela havia um grande buraco que também vazava sangue. Lá dentro estava vazio. Dorso Branco uivou e chorou.

Morreu 4 dias depois, vítima de uma perfuração no pulmão por três costelas quebradas. Foi o último de sua espécie, que milhares de anos depois seria conhecida como Homo Erectus.

Adão e Eva

Aquela parte do laboratório era enorme, e continha uma fila gigantesca de tubos cheios de um líquido esverdeado, cada um com mais de dois metros de altura. Dois dos tubos, estavam escuros, não iluminados, sendo impossível de se ver o que continham. Todos os outros estavam vazios. Era um feito enorme para Ninhursag depois de anos de tentativas falhas e tendo que agüentar a pressão de Enki. Mas agora ela estava no topo. Sua criação era perfeita para os propósitos do rei. A revolta dos trabalhadores finalmente chegaria ao fim. Eles seriam substituídos por escravos. Tudo criação sua.

Os tubos escuros se ascenderam e revelaram um casal estranho para os Dracos. Estavam flutuando no líquido esverdeado, com tubos presos aos narizes. O macho, tinha pêlos no peito, na região genital, pernas, braços, axilas e rosto; a fêmea tinha nas genitais, axilas e pernas. Os cabelos de ambos eram grossos. A cor da pele, por causa do líquido que os envolvia, era indistinguível, mas se podia ver que era um meio tom entre o claro e o escuro. O macho tinha peito forte e ombros largos; a fêmea tinha mamas na altura do peito e quadris largos. Apesar de estranhas aos olhos dos Dracos, aquelas criaturas eram incrivelmente harmônicas. Perfeitas.

Dias depois, a apresentação foi feita na sala real. Todos os Dracos importantes que se encontravam no planeta estavam presentes, dentre eles Enki, Enlil e o rei Anu.

- Majestade e todos os presentes, é com muita honra que lhes apresento o fruto de anos de pesquisa, entre erros e acertos. A partir de agora, poderemos voltar à mineração, sem os inconvenientes que presenciamos. Eu lhes apresento Adamu e Eva!

Dois soldados entraram escoltando outras duas figuras curiosas. Estavam nus. Por um instante, o silêncio tomou conta da enorme sala. Todos os Dracos presentes olhavam fixamente para ambos. Até que Enlil tomou a palavra:

- Isso deve ser alguma brincadeira! O que esta escória pleiadiana faz aqui?

Foi então que Ninhursag percebeu que a nova raça, sua cria, era por demais semelhante aos pleiadianos. Por ironia do destino, a salvação para a mineração viria de seres parecidos com aqueles com mais rusgas entre os Dracos. O trabalho havia cegado-a a tal ponto, que algo que salta aos olhos lhe passou despercebido. E foi então que uma tempestade de elucidações vieram à sua mente e ele entendeu algumas coisas.

- Não, mestre Enlil, não são pleiadianos. São frutos de muito trabalho realizado a partir da raça primata encontrada aqui, e o mestre sabe disso.

- E como explica sua aparência, mulher? Que jogo está tramando?

- Nenhum jogo, senhor Enlil. Eu não tinha me dado conta antes, mas agora me salta á vista a razão deste mal entendido. Tudo está claro. Não é de hoje que ouvimos falar que alguns pleiadianos fazem experiências genéticas por todo o cosmos, assim como nós. Esses primatas de alguma forma, e agora podemos atestar por sua aparência atual, detém algum vestígio do DNA pleiadiano. Eu suponho que não apenas pleiadiano mas de outras raças também. Há algo neles que eu não compreendo, um fator mais profundo que eu, como Draco, não posso identificar. Mas eu posso dizer a todos, e à Vossa Majestade que, apesar de sua aparência, esses dois são absolutamente mansos. Eles são espertos o suficiente para trabalhar, burros o bastante para obedecer, cegos o bastante para serem controlados.

- Apenas dois... Quanto tempo levará para termos criaturas suficientes para o trabalho – perguntou um dos presentes.

- Felizmente por meu fascínio em trabalhar com a genética, eu acabei trazendo todo o material necessário para um trabalho amplo e completo, mesmo contra os insultos de meu nobre marido – Enki grunhiu diante desta declaração. – Então, meus senhores, em um ano teremos adultos suficientes para uma mineração ampla e bem feita. O processo de crescimento acelerado é cem por cento seguro.

Adamu ouvia todas aquelas palavras sem uma compreensão profunda, porém, intrinsecamente compreendia seu tom e de alguma maneira sentia que aquelas criaturas estranhas não eram sociáveis. Olhou para Eva e sentiu algo forte em seu íntimo. Soube naquele instante que ela também sentiu. Era algo forte que parecia surgir no meio do peito. Ele era arguto. E conseguia entender um monte de coisas. Inclusive que ele era o primeiro. O primeiro.

Fim

Algumas palavras
Olá, querido leitor, espero que entenda que este texto acima serve apenas como uma ilustração sobre os eventos que aconteceram num passado remoto da raça humana. De fato fomos alterados geneticamente não apenas pelos Anunnaki, mas por muitas outras raças que passaram por aqui. Os nomes usados não devem ser considerados osnomes de verdade das entidades reais, pois tais nomes variam de cultura e idioma. Aqui usamos os nomes dados pelacivilização suméria. No passado da humanidade, cada cultura que presenciou os eventos adotaram nomes e alegorias diferentes.Anunnaki, por exemplo, não é o nome original da raça, mas o nome dado pelos sumérios que significa “Aqueles Que Desceram dos Céus”. Também neste texto eu não falei sobre quais eram os verdadeiros propósitos por trás de tudo e das entidades que mexiam os pauzinhos. Devemos ir devagar para um melhor entendimento.

Que fique claro que o que podemos fazer é dar uma passada por cima na história real, poiseventos e períodos se fazem incertos quando há pouco material sobrevivente para uma análise mais complexa. Portanto, a descrição metódica não se pode usar, apenas a descrição superficial dos eventos. Mas esta é o suficiente para ter conhecimento da verdade.Também é necessário dizer que não há evidências o bastante para afirmar que os Anunnaki eram reptilianos, sendo que provavelmente, segundo muitos dados, eles eramhumanóides. Neste texto usei a primeira hipótese apenas como forma de criar um ambiente mais interessante para a história.

É importante entender a nossa origem para entender nosso futuro. Aqui está um link de um post bem bacana da Laura Botelho, fazendo um resumão sobre esses fatos: Um Breve História do Homem.

Abraços e Fique na Paz.